Jacaré está prestes a se formar educador físico pela Universidade Positivo e trabalha como monitor do Capoeira e Cidadania
Desde 2004, o projeto estimula a disciplina, a socialização e abre novas oportunidades para crianças e jovens.
À primeira vista, uma roda de capoeira sugere exercício físico e diversão. No Projeto Capoeira e Cidadania, realizado desde 2004 pela Associação Viking (associação dos funcionários da Volvo), no entanto, esse círculo representa oportunidade de vida.
Que o digam os quatro alunos do projeto que hoje cursam universidades e os três que viraram monitores. É o caso de Valdinei Ribeiro da Silva, 22 anos, o Jacaré. Sua história reforça a intenção inicial do Capoeira e Cidadania. “A ideia não era apenas oferecer um esporte, queríamos aliar isso à parte educacional das crianças”, conta Eduardo Giglio, gerente da Associação Viking e responsável pelo projeto. “Buscamos a formação delas como cidadãs, sempre articulando com a escola, estimulando os estudos, a disciplina e a educação”, completa o coordenador pedagógico e professor Jorge Luiz de Freitas, o Piriquito-verde. Ele também coordena o projeto de capoeira “Joga Piá”, apoiado pela Volvo.
Destinada a crianças e adolescentes entre 7 e 18 anos matriculados na rede pública, a iniciativa tem repercussões diretas também na comunidade do entorno. “O projeto tira as crianças da rua e desenvolve nelas maior disciplina e respeito pelo próximo”, afirma Márcio Nilton Kochhmann, diretor do Colégio Estadual José Fressato. Hoje, 50 dos cerca de 300 alunos da instituição participam das aulas dentro da própria escola e outros 100 na Associação Viking.
Na Escola Nilza Tartuce, no Passaúna, que atende 130 crianças com deficiência intelectual, o projeto chegou em 2009. Os resultados foram bastante positivos, segundo a diretora Lucimere Ceccon. “Depois das aulas, as crianças estão mais soltas, com a coordenação motora aprimorada. Tiveram ganhos também na socialização, na concentração e, em sala, aprenderam a seguir regras”, diz.
Outras unidades atendidas são o Centro de Educação Integral Ulisses Falcão Vieira, a Escola Estadual República Oriental do Uruguai e o Centro Municipal de Educação Infantil São José. Hoje mais de 400 pessoas estão envolvidas no projeto. Além das crianças e adolescentes dos colégios, participam filhos de funcionários da Volvo e familiares das crianças atendidas. “Virou uma grande família”, orgulha-se Giglio.
Trajetória de Campeão
Jacaré era um menino em situação de risco social, que se apaixonou pela capoeira e mudou de vida. Valdinei Ribeiro da Silva era um menino que, como tantos outros de sua comunidade, a Vila São José, passava a tarde inteira na rua. Filho de um pedreiro com uma diarista, convivia também com traficantes e outros criminosos. “Eu tinha todo o perfil para ir para o caminho errado”, diz.
Aluno do projeto desde 2005, atualmente, aos 22 anos, Jacaré (apelido recebido na capoeira) está prestes a se formar educador físico pela Universidade Positivo e trabalha como monitor do Capoeira e Cidadania, onde tem a oportunidade de incentivar outros jovens a seguir seus passos. No início, nem sua própria família acreditava ser possível. Quando aventou a possibilidade de entrar na faculdade, a mãe o desestimulou, aconselhando a usar o dinheiro de outra forma. Ao longo do tempo, porém, transformou-se na maior defensora da formação do filho. “Hoje ela me incentiva e até brigou comigo quando peguei uma dependência”, diverte-se. Valdinei também é orgulho para seu pai. “Ele está sempre falando de mim para os amigos.”
Na capoeira, Jacaré também é bem-sucedido. Foi campeão Sul Brasileiro de sua categoria em 2011 e 2012 e terceiro lugar em 2013. “Além de nos tornar bons cidadãos, o professor está formando bons atletas”, afirma.